Parece que foi ontem, quando na década de 80, eu estava programando rudimentares simuladores em BASIC, copiados das revistas de informática da época, em um Apple II e também no CP500, maravilhas da tecnologia para um menino de 12 anos.
Desde então nunca deixei de estar envolvido entusiasticamente com simuladores de voo.
Infindáveis horas de: Falcon AT, Microsoft FLight Simulator, Eurofighter 2000, IL2, DCS, acumularam em mim uma boa cultura aeronáutica e me estimularam no aprendizado do inglês, pois até pouco tempo, os bons livros e revistas especializadas em aviação e informática eram todas escritas na língua inglesa.
Em 2014, tive meu primeiro contato com o Condor, simulador de voo a vela com uma forte ênfase em competições online.
O aprendizado e amadurecimento até achar o ponto de equilíbrio entre: agressividade e segurança, desejo de vencer e regularidade, custou muitas frustrações, tempo dedicado às provas online e mais tempo ainda tentando entender o que os que venciam as provas tinham feito melhor que eu.
Tentar compreender as decisões que levavam aos bons resultados dos pilotos de ponta no Condor, foi o principal fator de meu desenvolvimento.
Neste tempo percebi que a experiência relatada com o Condor não era similar para todos os praticantes, podendo ser desde: imersiva e muito satisfatória, a uma experiência vulgar onde não era possível a associação com o voo a vela real ou pressupor utilidade como ferramenta de treinamento.
Uma das melhores utilidades do simulador, é criar memória motora e fazer o comando do planador um ato automático, espontâneo, porém isso não vai ser conseguido com um laptop, utilizando um mouse como controle de voo.
Recursos mínimos como um joystick e um pedal são fundamentais, principalmente para simuladores em escolas e aeroclubes.
Antes de meu primeiro voo de planador, eu usava um joystick com o leme controlado por torção de punho. Durante os primeiros voos reais, a coordenação mão e pé não foi natural. Eu tinha que pensar antes de comandar o leme com os pés, como alguém que tenta falar inglês pensando em português e depois traduzindo.
Logo depois desta experiência, comprei os pedais e foi impressionante como isso tornou natural o comando nos voos reais dali em diante.
Dispositivos de “Head Track”, como o Track IR e óculos virtuais a exemplo do Oculos Rift, aumentam enormemente a imersão, fazendo a experiência ser muito mais próxima a realidade, além de que, o Track IR é um investimento de ótimo custo benefício.
A experiência com computadores de voo no Condor é uma grande oportunidade de familiarizar-se com estes dispositivos e aprender os atalhos que fazem o seu uso mais fácil e sua programação mais rápida.
Cada computador de voo têm suas particularidades e opções disponíveis, quais dados mostrar e como os dispor nas telas. Achar a melhor configuração durante o voo online, facilita chegar às provas reais com o melhor setup, tornando a operação mais eficiente.
Das muitas possibilidades do Condor, o XCSoar é a mais prática, estando disponível gratuitamente para muitas plataformas: Android (tablets e celulares), um segundo monitor no mesmo computador do simulador, um outro computador, etc.
A comunicação entre participantes de uma corrida, é facilitada com uso de programas como: Team Speak ou Discord, onde todos podem falar livremente, bastando para isso, apenas o programa (gratuito) e uma conexão de internet.
Pilotos reais do mundo todo utilizam o Condor, não sendo incomum encontrarmos os campeões nacionais e participantes do SGP, nos servidores, principalmente no período do inverno europeu.
Em 2018 a Federação Brasileira de Voo a Vela oficial, chancelou uma competição de Condor, o 1º Campeonato Brasileiro de Voo a Vela Virtual, fazendo parte do calendário de eventos e tendo sua premiação durante a cerimônia de finalização do Campeonato Brasileiro real. Esta iniciativa repercutiu muito bem e já incentivou outras federações a também apoiar o Voo A Vela Virtual.
Este ano está acontecendo além do Campeonato Panamericano, com a participação principalmente de brasileiros e argentinos, o Campeonato Invernal Argentino, no qual brasileiros participam como convidados.
Como ferramenta de treino competitivo, o grande benefício do Condor é aprender avaliar situações e definir estratégias ainda no briefing, equilibrar arrojo e segurança, entender que o que faz ganhar uma prova não é voar mais rápido que outros em um determinado momento, mas: utilizando ao máximo as condições do dia, minimizando desvios, planejando seu passos para evitar giros em térmicas abaixo da média do dia, evitar condições que dificultem a rápida centralização de térmicas, refinar estratégias em provas de área, etc.
O Condor tem limitações?
Sim – tem muitas!
A principal é a limitação com a variação meteorológica durante as provas.
Mesmo com as melhorias do Condor2, você não vai ter que se preocupar com um sobre-desenvolvimento, com a entrada de uma frente, em contornar uma área de chuva ou com um CB apagando o dia ou bloqueando a área de chegada.
Mesmo com as limitações, você poderá encontrar: áreas de azul, correntes ascendentes e descendentes entre térmicas, ondas, estradas de nuvens, dias de prova no azul completo, provas com voo em colinas e montanhas, enfim – condições suficientes para tornar variadas e interessantes as condições de prova.
Outra limitação é a falta da força G, mas este é um fato inerente à realidade do simulador caseiro e teremos que conviver com isto.
Mesmo com suas limitações, eu posso dizer que a simulação funciona o suficiente para fazer eu estar completamente a vontade em um planador, ciente de tudo que estava a minha volta e das opções durante o voo, desde a primeira oportunidade em que entrei em um – isto com certeza é um benefício a qualquer piloto em formação, reduzindo custos e tempo necessário para o brevet, podendo ser utilizado por aeroclubes e escolas de todo o mundo.
Não é a toa que a Força Aérea Americana está utilizando o Condor de forma maciça na formação inicial de seus cadetes.
Uma novidade excelente é que, estão disponíveis cenários fotorrealistas cada vez mais detalhados, que além de servir para a ambientação de diversas áreas do Brasil e do mundo, oferecem um belo visual durante os voos muito prazerosos.
Caso vocês queiram verificar o máximo que o Condor pode oferecer hoje em termos visuais, recomendo o cenário “Matamata”, disponível no Condor Club, “www.Condor-Club.eu”, site que é o centro do universo do Condor Mundial.
Para quem eu indico o Condor?
Estudantes de voo a vela, pilotos iniciando voos de navegação “cross-coutry”, pilotos de competição visando refinamento do gerenciamento de voo, entusiastas e amantes da aviação que, por alguma razão, não pode viver o voo a vela na realidade.
Nesta categoria dos impossibilitados, eu estou enquadrado, pois vivo em Itabuna-BA, cidade onde o lugar propício a prática de voo a vela mais próximo está a 1000Km, onde não há aeroclubes com planadores que possam ser usados. Já que atualmente é inviável manter um moto-planador próprio, é o Condor que remedia a síndrome de abstinência que tenho, provocada pela falta de ver este nosso belo mundo lá do céu.
Nesta caminhada no Condor, consegui alguns feitos: vitória em mais de 350 corridas online, 4º lugar no campeonato mundial do Condor em 2018, 2º colocado no 1º Camponato Brasileiro Virtual (ganho por um argentino), além de ter me tornado uma das referências do voo a vela virtual mundial.
Caso vocês queiram conhecer melhor este mundo, acessem o grupo do Facebook “Condor Brasil”, onde estarão disponíveis tutoriais, vídeos, streams ao vivo de competições e notícias do voo a vela real e virtual.
Salute!
Escrito por Cristiano Silva Conrado Moreira – CON
Fotos: Acervo pessoal e Condor Soaring
Tive o prazer de conhecer o Conrado e o Sr. Rene como chamamos no Condor. Foi em 2018 no 60° Campeonato Brasileiro de Planadores, realizado em Bebedouro, um evento inesquecível. Abraço amigos do Voo de Planadores virtual e real.